4 de nov. de 2008

Meninos Têm Mais Distúrbios Por culpa da Sociedade

Meninos têm mais distúrbios mentais

Risco de desenvolver problemas de aprendizagem, por exemplo, é quatro vezes maior, apontam estudos

Renata Cafardo

Meninos têm até quatro vezes mais risco do que meninas de desenvolver problemas emocionais, de aprendizagem na escola, de comportamento, além de distúrbios mentais. A constatação foi apresentada neste mês em Londres, em evento sobre educação para crianças com necessidades especiais. Segundo revisão da literatura científica, parte da culpa pelos problemas no desenvolvimento dos meninos vem da cultura e da sociedade modernas.

“Estamos empurrando nossos meninos para doenças como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou para ter dificuldades na alfabetização”, diz a educadora inglesa Sue Palmer, que há anos pesquisa o desenvolvimento infantil. Autora de dois livros - ainda sem tradução no Brasil - que caracterizam a infância atual de “intoxicada”, Sue adiantou resultados de suas pesquisas sobre diferenças de gênero no Special Needs London. O evento, promovido pela National Association for Special Education Needs (Nasen), reuniu milhares de professores do Reino Unido em palestras e numa feira de produtos para crianças com necessidades especiais.

As conclusões da especialista serão publicadas em maio em seu novo livro, 21st Century Boys (Meninos do Século 21). Segundo ela, as explicações sobre a maior prevalência das doenças em meninos começam nos aspectos evolutivos. O homem, responsável desde os primórdios pela caça e pelas estratégias, é um ser mais inclinado a uma personalidade sistemática. Já as mulheres, ocupadas em dar à luz e cuidar da criação dos filhos por séculos, tendem a ser mais empáticas.

Entre as pesquisas analisadas por Sue está um estudo da Universidade de Cambridge, publicado em 2003, que indica que essas diferenças estão também ligadas ao nível de testosterona. E que o homem - e seu tipo sistemático - tem mais dificuldade em se relacionar com as pessoas, expor suas emoções, o que leva a um vocabulário mais pobre. A pesquisa conclui que o autismo, doença que faz com que a pessoa se isole do mundo exterior, poderia ser caracterizado como “o cérebro masculino ao extremo”.

“Na sociedade moderna, em que há cada vez menos comunicação entre pais e filhos, e cada vez mais interação com computadores e TVs, os homens acabam tendo mais dificuldades ainda”, diz Sue. As propagandas e o marketing ajudam também, segundo ela, a trazer problemas para as crianças - e especialmente meninos - já que valorizam o individualismo e o consumismo.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) - caracterizado pela desatenção, impulsividade e hiperatividade - aparece quatro vezes mais em meninos, segundo a literatura científica. O mesmo ocorre com a dispraxia, doença que limita a coordenação motora. Outras pesquisas indicam que eles têm três vezes mais problemas em leitura e duas vezes mais transtornos emocionais.

Para Sue, computadores, videogames e televisão - que exercem mais fascínio sobre meninos - desde cedo têm grande influência nisso. “Deveríamos dar às crianças tempo para aprender a ler e escrever antes de começar a se envolver com isso”, acredita. “As recompensas rápidas oferecidas pelos jogos de computador trabalham contra a concentração focada e uma gratificação mais demorada. O que torna mais difícil para os meninos desenvolver as habilidades necessárias para a leitura, por exemplo.”

Segundo estatísticas do governo britânico, 10% das crianças do país têm algum tipo de doença mental, 6% delas têm os chamamos distúrbios de conduta, que incluem praticar o bullying na infância (atos de violência física ou psicológica contra colegas). Outras 4% delas têm distúrbios emocionais, como fobias, ansiedade e depressão. Os índices ingleses confirmam a maior prevalência entre meninos: enquanto 8% das meninas são identificadas com distúrbios mentais, a taxa entre eles é de 11%.

No Brasil, não há índices oficiais, mas pesquisas acadêmicas têm mostrado que a prevalência dessa doenças atinge 12% das crianças do País. Entre 3% e 5% delas sofreriam de TDAH. Segundo o diretor do serviço de psiquiatria da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Enio Roberto de Andrade, não há ainda uma explicação consensual sobre o fato de as doenças serem mais comuns em meninos. “Talvez o fato de serem mais impulsivos e agressivos acaba exacerbando algo natural”, diz.

A pesquisadora da Universidade de Wales, no País de Gales, Amanda Kirby, especialista em distúrbios do desenvolvimento, acrescenta que também há mais dificuldades em identificar problemas em meninas. “Ela, muitas vezes, não age com hiperatividade, mas tem dificuldade de concentração, e isso é visto como algo comum, como uma ‘menina sonhadora’”, diz.

Os distúrbios mentais são causados por mutações genéticas, mas podem ou não ser desenvolvidos ao longo da vida. Fatores associados à gravidez - como fumo ou má nutrição - e ao ambiente em que as crianças vivem são cruciais para o aparecimento ou não da doença.

Para Sue, além de manter as crianças o mais longe possível de computadores e TVs, é preciso focar a educação nos primeiros anos de vida em músicas, histórias e brincadeiras - principalmente em ambientes abertos e com outras crianças. “Os pais não precisam ficar com medo de que elas fiquem para trás em termos de tecnologia. Isso é intuitivo e a criança mais velha aprenderá facilmente.”

A repórter viajou a convite do Consulado Geral Britânico/UK Trade and Investment

(Ler original aqui)

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Emotional intelligence Type of intelligence defined as the abilities to perceive, appraise, and express emotions accurately and appropriately, to use emotions to facilitate thinking, to understand and analyze emotions, to use emotional knowledge effectively, and to regulate one's emotions to promote both emotional and intellectual growth.

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Conceito de Mãe: Apesar de algumas competências exigidas a uma “mãe”, para criar e/ou educar uma criança, se relacionarem com a vertente biológica, a maior parte delas são desenvolvidas por aprendizagem social. Assim, quando falamos em “mãe”, não estamos propriamente a referir-nos à mulher que dá à luz, mas sim a um adulto significativo possuidor das competências necessárias para cuidar de um bebé e que, dispondo de tempo para dedicar à criança, se mostra capaz de lhe proporcionar experiências positivas, estimulantes, e de lhe dispensar a atenção e o afecto necessários, de forma a possibilitar o desenvolvimento das suas potencialidades.

J. S., n.º14, 12º ano CAD