22 de out. de 2012
Para que serve a filosofia?
Para que serve a filosofia?
A filosofia, diz-se
por vezes, não serve para nada. [...]
Mas será verdade
que a filosofia não serve para nada? Claro que não. A filosofia, como a
ciência, como a arte e como a religião, serve para alargar a nossa
compreensão do mundo. Em particular, a filosofia oferece-nos uma
compreensão da nossa estrutura conceptual mais básica, oferece-nos uma
compreensão daqueles instrumentos que estamos habituados a usar para
fazer ciência, para fazer religião e para fazer arte, assim como na
nossa vida quotidiana. A filosofia é difícil porque se ocupa de
problemas tão básicos que poucos instrumentos restam para nos ajudarem
no nosso estudo. Os matemáticos fazem maravilhas com os números; mas são
incapazes de determinar a natureza última dos próprios números -- têm de
se limitar a usá-los, apesar de não saberem bem o que são. Todos nós
sabemos pensar em termos de deveres, no dia a dia; mas a filosofia
procura saber qual é a natureza desse pensamento ético que nos acompanha
sem nós darmos muitas vezes por isso.
Para compreendermos
melhor as dificuldades da filosofia é conveniente pensar numa metáfora.
Imagine-se que eu estou a fazer uma casa. Preciso de usar vários
instrumentos, como a pá de pedreiro, e vários materiais, como o cimento.
Mas quando quero fazer uma pá de pedreiro, ou quando quero fazer o
cimento, terei de usar outros instrumentos mais básicos. E depois terei
de ter instrumentos para fazer os instrumentos com que faço a pá de
pedreiro ou o cimento. E por aí fora. Experimente ir para uma ilha
deserta fazer uma casa, sem levar nada da civilização. Será extremamente
difícil: não terá instrumentos à sua disposição para fazer nada, excepto
as suas mãos e a sua inteligência.
Num certo sentido,
é esta a dificuldade da filosofia: estamos a tentar estudar os próprios
instrumentos que usamos habitualmente para pensar. Por esse motivo,
falta-nos instrumentos, falta-nos apoio. Mas não estamos completamente
desamparados; temos a argumentação para nos ajudar. São os argumentos
que fazem a diferença. São os argumentos que nos permitem ir mais longe
na compreensão da nossa estrutura cognitiva mais profunda, que nos
permitem compreender melhor os conceitos que usamos no pensamento
quotidiano, científico, artístico e religioso.
É agora claro que a
filosofia serve para alguma coisa. Serve para compreendermos melhor a
estrutura conceptual que usamos no dia-a-dia, na ciência, nas artes e na
religião. Claro que a filosofia não serve para distrair o "povo", como o
futebol ou a tourada. Mas também a matemática não serve para isso, nem a
religião, nem a arte em geral. Para que serve "Os Maias" de Eça de
Queirós? Para que serve a teoria da evolução de Darwin? Para que nos
serve saber que só na nossa galáxia há tantas estrelas quantos os
segundos que existem em 3 mil anos? Serve para sabermos mais sobre nós
próprios e sobre o universo em que habitamos. Tal como a filosofia.
Publicada por Armando Almas, Magda Campos em 16:44:00
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