O início do ano letivo, na disciplina de filosofia do 10º ano, é tanto aliciante, como difícil começar o trabalho com a tradicional tentativa de explicar/definir o que é a Filosofia. Geralmente opto pela leitura de alguns textos tradicionais (António Sérgio, Kant, Agostinho da Silva ou Descartes). E lá tento que os alunos vão desenvolvendo a ideia que a filosofia é, acima de tudo, uma atitude, um estado de espírito, um novo modo de olhar para o mundo, onde adquirimos um sentido mais reflexivo/crítico/autónomo. A aprendizagem da filosofia é a aprendizagem da ginástica da mente humana. É o desenvolvimento da nossa parte espiritual. É, pouco a pouco, perceber que neste mundo podemos ser vazios de ideias próprias seguindo de modo superficial/simplista a opinião da maioria sem nunca nela termos profundamente pensado antes de a aceitar, o que contraria o nosso dever/potencial de seres racionais e emocionais. Talvez por isso, pela facilidade e/ou comodismo/conforto permitimos a tanta gente controlar o nosso destino/vida. Fazemos as coisas mais absurdas como por exemplo trocar a ida ao médico pela opinião de um curandeiro da moda ou acreditar na publicidade a uma dieta milagrosa que não exige esforço da nossa vontade. Seguimos mais facilmente a ilusão de certos especialistas dos feitiços (que pretendem resolver os nossos problemas amorosos ou profissionais) do que a realidade da minha vida estar na palma da minha mão. Pensar que são as minhas decisões que determinam, em boa parte, as consequências do que sofro (para o bem e mal) obriga-nos a uma responsabilidade/maturidade que evitamos. Realmente, é mais fácil viver segundo a desculpa de que "fizemos o que pudemos mas a sorte não esteve do nosso lado", "O que aconteceu foi obra do destino", em vez de esforço e luta pela superação de dificuldades. Os bruxos, os gurús, o consumismo desenfreado, o marketing político que alguns utilizam para dar à sua imagem um toque mínimo de honestidade para manipulação das massas, abundam à nossa volta com uma intenção voraz de usurpar a nossa felicidade, sugar a nossa vida. É interessante ver nas manifestações que têm decorrido em vários países em crise cartazes com a frase: "Queremos a nossa vida de volta". O que parece mais trágico é verificar que muita gente ainda nem sequer se apercebeu disto... Que perdeu o controlo da sua vida... Aliás, nem sequer se percebe muito bem que crise afinal é esta que se vive?... Será de finanças ou moral/ética?... De qualquer modo, precisamos de mais filosofia, mais consciência, maior responsabilidade. Estamos fartos de ilusionistas vendedores de ilusões! Certo?
27 de set. de 2012
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