Um estudo da Academia Americana de Pediatria concluiu que ver televisão não traz qualquer benefício à educação de crianças com menos de dois anos. Os investigadores alertam os pais para a necessidade de limitarem o tempo que os filhos passam em frente ao ecrã, e incentivarem a interação das crianças com outras pessoas.
Em 1999, a associação médica norte-americana já tinha alertado para a mesma questão, tendo publicado um primeiro estudo que desencorajava por completo o consumo televisivo por menores de dois anos. A posição radical suscitou na altura a indignação tanto dos responsáveis pela indústria do entretenimento como das próprias associações de pais. O argumento era o mesmo: "hoje em dia é impossível". 12 anos e muitas novas tecnologias depois, os estudos foram reformulados e adaptados à realidade do século XXI.
"Sentimos que estava na altura de voltar a este assunto porque os ecrãs de televisão hoje em dia estão por todo o lado, e esta mensagem é muito mais relevante hoje do que era há uma década", afirma o pediatra Ari Brown. "Entre televisores, computadores, iPads e smartphones, as casas podem chegar a ter mais de 10 ecrãs", sublinha Brown.
As Privilegiar a linguagem humana
Recomendações dos pediatras são agora um pouco menos extremistas, mas ainda assim cautelosas: a televisão até pode estimular a aprendizagem, mas só em crianças com idade superior a dois anos. O psicólogo norte-americano Georgene Troseth revela que, contrariamente às crianças em idade escolar, os bebés "não fazem ideia do que está a acontecer" quando vêm televisão, porque não tem capacidades mentais para tal.
Investigações recentes comprovam que é a interação com pessoas e objetos o principal motor do processo de aprendizagem das crianças. A professora de psicologia Kathryn Hirsh-Pasek explica que "quanto mais linguagem humana for recebida, maior será a capacidade da criança para produzi-la e compreendê-la mais tarde".
Televisões fora do quarto
A prática cada vez mais comum de ter um televisor em cada divisão da casa, e em especial no quarto da criança, é outra questão que preocupa os académicos, ao mesmo tempo que avisam os adultos para moderarem o seu próprio consumo de conteúdos televisivos - um mau exemplo para os filhos e uma significativa diminuição do tempo passado com as crianças. A simples rotina de deixar a televisão sempre ligada como "ruído de fundo" pode prejudicar o desenvolvimento infantil, por ser inevitavelmente uma distração tanto para os filhos como para os pais. "Sabemos que do contacto com os media pode advir algum conhecimento, mas é mais reduzido e demora muito mais tempo", refere Georgene Troseth.
A Academia Americana de Pediatria alerta que por cada hora que uma criança passa em frente ao ecrã, perde cerca de 50 minutos de interação com os pais, e sugere que os médicos recomendem às famílias que instituam um limite para o tempo passado na companhia da televisão, naquilo a que chamam de "dieta dos media".
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