O problema acerca da existência da liberdade humana pode ser apresentado numa formulação preliminar. As nossas crenças e desejos, e portanto, o nosso comportamento, são causados por coisas fora do nosso controlo. Não escolhemos livremente os nossos genes nem a sequência de ambientes em que crescemos. Se não os escolhemos livremente, porquê dizer que o nosso comportamento é o resultado de uma escolha livre da nossa parte? Como podemos ser responsáveis por acções causadas por acontecimentos (que tiveram lugar há muito tempo) sobre os quais não exercemos qualquer controlo? Aparentemente, somos tão livres como um computador: um computador comporta-se como o faz porque foi programado para isso.
Outra maneira de ver o problema consiste em considerar uma característica diferente do quadro causal acima indicado. Suponhamos que o nosso comportamento é o resultado das nossas crenças e desejos, tal como o comportamento de um computador é o resultado do seu programa. Há um aspecto na situação em que se encontra o computador que parece caracterizar também a nossa. Dado o programa nele instalado, o computador não pode agir de modo diferente do que age. Suponhamos que um computador foi programado para calcular a soma de dois números. Isto significa que se os dados de entrada são 7 e 5, o computador não pode deixar de fornecer 12 como dado de saída. O computador não pode agir de forma diferente.
Seremos neste aspecto como os computadores? Dados os desejos e crenças que presentemente temos, fazer o que fazemos não será inevitável? Os nossos desejos e crenças deixam tão em aberto o que faremos como o programa do computador deixa em aberto o que o computador fará. Este facto a respeito do computador, e a respeito de nós próprios se formos como o computador, parece implicar que não somos livres. A razão é que se uma acção for praticada livremente, então deve ter sido possível ao agente agir de outra maneira. Se foi livremente que levei aos lábios a chávena, deve ter sido possível abster-me de levar aos lábios a chávena. Mas, dados os desejos e crenças que tinha, eu não podia deixar de levar a chávena aos lábios. As nossas acções são a consequência inevitável das mentes que temos, tal como os dados de saída do computador são a consequência inevitável do seu programa.
Acabo de indicar duas características das relações causais representadas no diagrama precedente. Cada uma sugere o seu próprio argumento a favor da tese de que nenhuma acção humana é livre. Ao primeiro argumento chamarei Argumento da Causalidade à Distância; está centrado na ideia de que o nosso comportamento é causado por factores (os nossos genes e o ambiente em que crescemos) fora do nosso controlo. Ao segundo argumento chamarei Argumento da Inevitabilidade; centra-se na ideia de que não podemos agir de maneira diferente daquela que os nossos desejos e crenças nos fazem agir. Ambos os argumentos serão mais tarde clarificados. Por agora, basta ter presente que se pensamos que por vezes agimos livremente, temos de encontrar uma falha em cada um deles.
(Determinismo Radical)
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